Recife, 15 de abril de 2021.
Cartas à Queridagem
Salve, queridagem querida,
Começo logo desejando de coração que você esteja bem. Que esteja conseguindo se proteger da pandemia, que não tenha perdido pessoas queridas, que esteja conseguindo ficar em casa a maior parte do tempo e que esteja com o juízo e o coração tranquilos. Não é pouca coisa.
Passamos do primeiro ano de Covid19 no Brasil e o mandato segue firme nas suas tarefas. Já faz tempo que não recebemos gente no nosso Gabinete 23 nem convidamos ninguém pra atividades presenciais. Nossa equipe tá toda bulindo, entre o necessário trabalho remoto e inevitáveis saídas para estar ao lado da população quando ela mais precisa, seja em essenciais protestos, ou imprescindíveis vistorias de obras públicas ou em fundamentais ações de solidariedade com dezenas de coletivos e organizações parceiras.
Reuniões, audiências, debates, solenidades… Tudo tem sido feito exclusivamente em formatos digitais, usando esses tantos aplicativos que a gente descobriu que existiam do ano passado pra cá.
Fácil não tá. A começar por sessões ordinárias na Câmara que chegam a durar cinco horas na frente da tela, sem contato direto, sem o ‘calor’ da plenária e a cobrança imediata que vem das galerias. As prestações de contas nos ônibus da cidade também estão paradas, assim como não vão andar agora outras ideias que eu tinha pra poder diminuir ainda mais a distância entre o legislativo e as nossas comunidades. Você nem imagina o tanto que eu tou sentindo falta de aglomeração e de conversar com gente que não tá mergulhada na política.
Pra organizar melhor as nossas atividades, acabamos de finalizar o planejamento do nosso mandato. Definimos que trabalharemos em cinco pautas prioritárias: Saúde e Política sobre Drogas; Assistência, Trabalho e Renda; Cultura; Comunicação e Política Urbana. Este ano, além de vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos na Câmara, eu também estou integrando como titular a Comissão Especial de acompanhamento do Covid19.
Até agora, ainda entendo que temos urgências que precisam de comprometimento e mobilização de todo mundo: tirar bolsonaro do poder e garantir a vacinação da nossa população, entendendo que até que isso aconteça é preciso que governos e municípios (porque de Brasília não vem) insistam em políticas de isolamento social, garantindo inclusive condições materiais pra que as pessoas possam se prevenir do vírus. Tem que ter grana, tem que ter comida, tem que ter informação. Sem isso, a gente não sai desse buraco nem tão cedo.
Tem sido massa poder contar com o mandato de Dani Portela, que completa nossa bancada, fortalece nossas pautas e nos permite somar pra dividir tarefas. É junto com ela na Câmara (e com as Juntas, na Assembleia) que a gente tá lutando para que o Recife implemente um projeto de Renda Básica de Cidadania; para impedir o despejo de 200 famílias na Vila Santa Francisca, no Ibura; pra agilizar as contratações das pessoas concursadas na saúde do município; pra demandar ações de prevenção em tempos de chuva; pra garantir a vacinação de pessoas com deficiência, com síndrome de down, grávidas, assistentes sociais, população em situação de rua, indígenas e rodoviários; pra tentar impedir a volta das aulas presenciais antes da vacina; pra pressionar pela limpeza dos nossos canais; pra demandar mais transparência nas contas da prefeitura; pra garantir que nossas agremiações e grupos culturais sobrevivam à pandemia; pra garantir que obras importantes, como a Via Parque das Graças, sejam concluídas respeitando a legislação ambiental.
Além dessas tarefas, que não são poucas, a gente também tá se preparando pra intervir sobre as leis orçamentárias e outras legislações que a prefeitura precisa mandar para a Câmara ainda este ano, como a Lei do Uso e Ocupação do Solo, a regulamentação da Transferência do Direito de Construir, a Lei de Parcelamento e o próprio Plano de Mobilidade que está empacado na prefeitura desde 2017 e cujo atraso já fez com que o município perdesse recursos oriundos do governo federal.
Podendo juntar gente no meio da rua, já era difícil chamar atenção para as ações do mandato e, principalmente, às tantas críticas que temos à gestão do PSB. No poder há tanto tempo tanto na prefeitura da Capital quanto no governo do Estado, o partido que já foi referência na esquerda nordestina hoje não está distante da direita. Tá cheio de bolsonaristas em suas bases, têm fortes tentáculos na mídia corporativa e nos tribunais, continua ouvindo pouco, governando pra poucos, dando pouquíssima transparência aos processos de decisão e fazendo um monte de propaganda. Por mais que o prefeito seja jovem, a prática é antiga. Tu sabia que foram quase 50 milhões de reais com publicidade só no ano passado? E que as despesas dispensadas de licitação por conta do Covid19 ainda não estão corretamente listadas no Portal da Transparência? Pois.
Não tenho dúvida que não tá fácil pra você também. Tem a sobrevivência, tem a sanidade mental, tem os pratos na pia, a distância das pessoas queridas, o fluxo de caixa da economia doméstica, a energia acumulada das crianças sem aula.
Mas fica bem. Precisando, desliga um pouco. Podendo, descansa muito. Mas não deixa de chegar junto em algum momento. Dá uma sacada nas nossas redes, te posiciona pelas tuas. Deixa tua janela dizer alguma coisa, participa de alguma campanha de solidariedade. Eu não tenho nenhuma dúvida que isso tudo vai passar. Alguma hora, algum dia, isso tudo vai passar. E a gente precisa estar firme, forte e bulindo o tempo todo pra que isso aconteça o mais brevemente possível.